De
acordo com Hortinha (2009), CRM (Customer Relationship Management),
Gerenciamento do relacionamento com o cliente é uma estratégia de negócio que
visa identificar, fazer crescer, e manter um relacionamento lucrativo e de
longo prazo com os clientes. Esta estratégia deve permitir identificar e selecionar
as formas de relacionamento com os clientes que apresentem maiores benefícios
ou maior potencial para a empresa e permitam fornecer a esses mesmos clientes
um nível de serviço que exceda as suas expectativas.
A
crônica CRM de Mercearia de Mário Persona traz uma visão muito objetiva desse
conceito provando que ele está ao alcance de todos:
Toshiro
queria aumentar as vendas da mercearia e deixar o freguês contente. Como o
pessoal gostava de comprar fiado, encomendou umas cadernetas, carimbando nas
capas a sigla: "CRM - Caderneta de Registro Mensal". Era nelas que
controlava as contas dos fregueses. Logo a CRM ficou popular no bairro.
"Anota aí na CRM dois quilos de tomate para a patroa", ordenava a
Benedita. "Minha mãe mandou perguntar quanto vai pagar de CRM este mês",
chegava o recado na boca da Silvinha.
Mas
a caderneta não servia apenas para cobrar os fregueses. Era a sua bola de
cristal. Naquelas linhas o japonês enxergava muito mais do que o total a
receber no final do mês. Ele identificava ciclos de comportamento do freguês,
suas preferências, a associação dos produtos adquiridos e muitas outras coisas.
Até a data de aniversário e idade das crianças ele sabia, pelo número da
velinha comprada na véspera.
Só
de olhar na caderneta Toshiro sabia quando oferecer novidades para o freguês. A
data escolhida para pagar era a mesma em que a freguesa estava com a carteira
mais cheia. E aberta a sugestões. Identificar preferências e associações de
produtos também ajudava a vender. A freguesa levava sempre banana e aveia?
Toshiro criava pacotes promocionais com um terceiro produto em promoção. Um
vidro de mel ou uma lata de farinha láctea, para criar novos hábitos na
família. E diminuir o estoque.
A
freguesa comprava sempre tomate? Dá-lhe campanha promovendo o macarrão e o
queijo ralado. Fazia tempo que não levava azeite? Era só lembrá-la de que o
azeite sempre acaba na hora da salada. A última compra foi há muito tempo? O
Toshiro ligava avisando que a laranja estava em promoção. E o freguês ia lá
buscar, só porque o Toshiro se preocupou em ligar.
Até
o Pepe, do açougue ao lado, criou sua própria caderneta CRM para acompanhar as
preferências da freguesia. Logo Toshiro e Pepe trocavam informações de suas
CRMs, para ganho mútuo. E o Manoel da padaria acabou aderindo ao sistema.
Seguido pelo Alcebíades do boteco. Cada um passou a ser um agente de uma
pequena rede de troca de informações.
O
Toshiro vendeu carvão e sal grosso para o doutor Januário? O Pepe era logo
avisado e ia preparando a carne que o doutor gostava. O Manoel aumentava a
receita do pão. E o Alcebíades colocava mais cerveja para gelar. Cada
comerciante sabia prever a próxima compra, para fazer a próxima oferta e
exceder a expectativa do freguês. Todos prosperavam. Os fregueses estavam
contentes.
Isso
até o filho do Toshiro voltar da capital. Da faculdade, com diploma e tudo, e
virar consultor do pai, enquanto não encontrava emprego. Achou a caderneta
antiquada. Vendas, só à vista. Se o freguês quisesse parcelar, que fosse pelo
cartão. O açougue? A padaria? O boteco? Eram concorrentes. Será que seu pai não
percebeu que eles também vendiam caixas de fósforos? Nada de dividir com a
concorrência. Cada um que cuidasse de seu próprio negócio. Ou a mercearia iria
perder a freguesia.
E
foi o que aconteceu. O que o filho logo interpretou como falta de investimento em
propaganda. A solução foi vender a Kombi de entregas e comprar espaço no jornal
e no rádio. Sobrou algum para um outdoor e uma tarde de palhaço com microfone
na porta da mercearia. Sem Kombi para entregar, o jeito era cada freguês
carregar sua própria compra. Ou comprar menos, para o braço não esticar na
caminhada.
Toshiro
sentia saudades do modo antigo. Da amizade com os clientes, do conhecimento de
seus hábitos. Do lucro. Um dia uma propaganda no jornal chamou sua atenção.
"CRM - Conheça os Hábitos de Seus Clientes". Parecia a sigla das
cadernetas, só que era em inglês. "Customer Relationship Management".
Será que poderia ajudar a mercearia? O filho descartou logo a ideia. Aquilo era
coisa para empresa grande. Não servia para mercearia. Era complicado demais
para Toshiro entender.
Observação:
Observação:
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Referências:
HORTINHA, Joaquim. CRM pra que te Quero. Das promessas de quem vende às realidades de quem compra. Artigo publicado no site e-marketing lab, 2009. Disponível em: http://www.e-marketinglab.com/crm_para_que_te_quero_jnegocios.html. Acessado em 22/09/2011.
PERSONA, Mário. CRM de Mercearia. Crônica publicada no site do autor. Disponível em: http://www.mariopersona.com.br/mercearia.html. Acessado em 22/09/2011.
Mario Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Veja em www.mariopersona.com.br
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